Tuesday, May 16, 2006

***Sua História***

A Cênicas Companhia de Repertório nasceu da iniciativa de um grupo de atores que tinham um pensamento de formar um grupo de teatro em que pudessem experimentar o fazer teatral dando ênfase à pesquisa da linguagem de cena e do trabalho do ator. A primeira montagem foi "Um Gesto por Outro" do dramaturgo francês Jean Tardieu. Subiu aos palcos em pré estreia no dia 19 de junho de 2001 na VIII mostra de artes cênicas de Garanhuns e seguiu para o XI Festival de Inverno de Garanhuns, Fazendo sua estréia em 12 de julho de Apos isso vieram outras montagens:

"Transe"(2002) de Ronald Radde

"Apaga a Luz"(2003) de Ronald Radde

"Que Muito Amou"(2005) de Caio Fernando Abreu
http://www.aids.gov.br/main.asp?View={DA56F374-128A-40FB-B16F-D08A1F5DD07B}&BrowserType=IE&LangID=pt-br&params=itemID={ADE09091-E5C7-4542-BBC1-CCDF48E277D1};&UIPartUID={D90F22DB-05D4-4644-A8F2-FAD4803C8898}#

"Neuroses a comédia"(2006) de Yuri Yamamoto, Antônio rodrigues, Sergio Roveri, Rogério Mesquita e Felipe Botelho.

Cênicas Companhia de Repertório
por Antônio Rodrigues (Ator e diretor da Cia.)

Em 2001, um sonho que nem tínhamos dimensão do tamanho começou a se tornar real. O Cênicas Companhia de Repertório nasceu da iniciativa de atores com objetivos afins, na formação de um grupo de teatro em que pudessem experimentar o fazer teatral, dando ênfase à pesquisa da linguagem de cena e do trabalho do ator. Em sua maioria os atores eram oriundos a cidade de Garanhuns
Apesar de morarmos no Recife já há bastante tempo, foi o interior que abriu as portas para a nossa estréia nos palcos em 19 de junho de 2001, no Teatro Luiz Souto Dourado do Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti, durante a mostra seletiva para o XI Festival de Inverno de Garanhuns. Motivados pelos estudos sobre o Teatro do Absurdo chegamos a um grande expoente dessa corrente, o francês Jean Tardieu. O texto chegou até nós através de um de nossos integrantes, o ator Jeff Nascimento. A identificação foi imediata, a partir das primeiras leituras, fomos mergulhando num mundo de possibilidades que, somente mais à frente, pudemos perceber que aquele marcava o princípio de uma busca pela nossa própria linguagem cênica.
O atual corpo de atores do grupo é formado por: Antônio Rodrigues, Cláudio Malaquias, Juliana de Almeida, Ana Souza, Fernanda Angelim, Sônia Carvalho e Marcelo Francisco, além de Valdemir Rodrigues e Alexandre Siqueira na produção e em treinamento os atores Alexandre Guimarães e Vinícius. Passaram pelo grupo os atores: Cleyton Cabral, Luciana Pontual, Eduardo Japiassú, Jefferson Nascimento, Ana Dulce Pacheco, Maria Elisa Moura, Lícia Semírames Karina Cavalcanti e Lílian Fereirra, estes ainda fazem participações especiais em nossos trabalhos, são parte de nossa história e peças chaves na construção da nossa trajetória. Sem contar com os convidados que abrilhantaram ainda mais nossos trabalhos: Jorge de Paula, Maria Luiza Lopes, Vanessa Lins, Diego Silva, Augusto Mendonça, Ana Souza, Patrícia Moreira, Alan Roger e Edjalma Freitas.

Nossa primeira montagem foi Um gesto por outro (2001) (2): o famoso texto de Jean Tardieu na ótica de uma companhia jovem. Retomar uma dramaturgia de qualidade foi o mote para nosso primeiro trabalho. Tardieu se tornou um dos autores cuja obra representa uma das maiores gamas de experimentação no Teatro do Absurdo. Foi um campo de grandes experimentações, apesar de ser um texto escrito há mais de 50 anos, sua temática é bastante atual e isso foi uma das principais identificações com a dramaturgia escolhida, começamos com o pé direito.

A crítica ao high society em forma de jogo teatral estava diretamente relacionada com o que queríamos dizer naquele momento. Um mundo cheio de convenções e regras de etiquetas, no qual as pessoas reproduzem o que são as regras impostas pela alta sociedade. Um prato cheio para ironia e para o bom humor que Tardieu traz em seus trabalhos. Estreamos Um gesto por outro na VIII Mostra de Artes Cênicas de Garanhuns, fomos premiados e ganhamos o direito de fazer a abertura da mostra de Teatro do XI FIG, Festival de Inverno de Garanhuns, em 13 de julho de 2001. Ficamos em segundo lugar, levando os prêmios de melhor atriz (Duvennie Pessoa), figurino, maquiagem, cenário, coreografia além de outras indicações como, direção, iluminação, sonoplastia, ator (Antônio Rodrigues), atriz (Sônia Carvalho) e atriz revelação (Luciana Pontual).

Depois disso, participamos do Projeto Educação para o Teatro, pisando pela primeira vez em palcos recifenses no Teatro Barreto Júnior, dirigido por Oswaldo Pereira. Mas a grande projeção tanto do espetáculo como do Cênicas Cia. foi a nossa primeira temporada regular e isso se deve principalmente a figura de Roberto Lúcio, diretor do Teatro Joaquim Cardozo à época. Participamos de concorrência de pauta e fizemos uma temporada de dois meses no segundo semestre de 2002, que foi estendida por mais um mês, a pedido do público. Foi um momento muito feliz e que nos deu muita sorte.
Já havíamos estreado o nosso segundo espetáculo, Transe (2002), de Ronald Radde, com grande aceitação em Garanhuns, vencendo a IX Mostra de Artes Cênicas, levando os prêmios de melhor espetáculo, atriz (Duvennie Pessoa), ator revelação (Edjalma Freitas), figurino, maquiagem, iluminação e coreografia, além de outras indicações como, direção, atriz (Luciana Pontual), ator (Antônio Rodrigues), cenário e sonoplastia. Sendo assim selecionados para participar pelo segundo ano consecutivo do XII FIG, em julho de 2002, e fazendo posterior temporada no Teatro Arraial em 2003.

A temporada de Um gesto por outro no Teatro Joaquim Cardozo nos permitiu participar do Janeiro de Grandes Espetáculos em 2003, no qual levamos o prêmio especial do júri de Melhor Conjunto de Elenco. Isso foi bastante importante, uma vez que coroava o trabalho coletivo que estava sendo feito com os atores do grupo. Participamos de outros festivais com Um gesto por outro: Todos Verão Teatro, II Feneteg (Prêmio de atriz coadjuvante para Luciana Pontual) e do Festival de Teatro de Curitiba em 2003, juntamente com Transe. A primeira vez em Curitiba foi bastante arriscada, fomos com a cara e a coragem, numa produção coletiva, sem verbas suficientes para a viagem. Tivemos uma boa recepção do público e dos poucos jornalistas que assistiram aos espetáculos, porém passamos por momentos muito difíceis e de superação, mas essas dificuldades nos fortaleceram ainda mais e a viagem ajudou no nosso amadurecimento enquanto pessoas e artistas.

No mesmo ano, estreamos Apaga a luz (2003), em Garanhuns, na X Mostra de Artes Cênicas. Fizemos uma temporada no Joaquim Cardozo e fomos novamente à Curitiba, com o segundo texto montado do autor gaúcho Ronald Radde. Dessa vez, a prefeitura de Garanhuns nos deu suporte e viajamos com tudo o que precisávamos. Tivemos contato com os grandes críticos de teatro do país e aprendemos muito com eles. Foi muito válida a experiência obtida nas conversas com Beth Néspoli, Mário Vianna, Ivana Moura, Janaína Lima, entre outros. O contato com essas pessoas gerou debates informais importantíssimos sobre dramaturgia, estética teatral e linguagem cênica que até hoje nos orientam nas escolhas de nosso repertório.

Depois disso, passamos a ter um olhar mais apurado na escolha dos nossos textos e foi a partir daí que colocamos em prática um projeto antigo. A montagem de um dos maiores contistas brasileiros, o Caio Fernando Abreu, em Que muito amou (2004). A peça é uma livre adaptação do seu livro de contos, Os dragões não conhecem o paraíso. São histórias que giram em torno do amor, amor/morte, amor/saudade, amor/ódio, amor/amor. E é nesse turbilhão de sentimentos que a montagem se baseia. Foram escolhidos três contos: Sapatinhos Vermelhos, Praiazinha, e Dama da Noite. Estreamos novamente em Garanhuns na XI mostra de artes cênicas, em Junho de 2004, mas só fizemos temporadas no Recife a partir de 2005, nos teatros Arraial e Apolo.

O ano de 2004 marcou a volta dos trabalhos do grupo para uma pesquisa mais direcionada em cima da estética dos quadrinhos e desenhos animados, iniciada apenas como referência em Um gesto por outro. Foi aí que começamos a experimentar essa linguagem em esquetes.
Nosso trabalho tem como base os resultados dos laboratórios específicos para cada espetáculo, buscamos mergulhar no campo da experimentação e usamos muitas vezes os esquetes como forma de colocar em prática a linguagem cênica trabalhada, bem como os resultados em busca de nossa estética própria. Foi de vital importância a realização desses esquetes para avaliação dos nossos experimentos: A inquisição, de Felipe Botelho (2004); Esperando o gordo, de Sérgio Roveri (2005); e Os figuras, de Rafael Martins (2006) foram apresentados dentro do Projeto Curta Cena; Estranhos, de Rogério Mesquita (2005); e Dois Pra Lá, Dois Pra Cá, de Mario Vianna (2007) participaram do Pochade levando nos dois anos o segundo lugar, além de melhor figurino e ator Revelação (Gustavo Soares). Os esquetes são uma mola propulsora em nosso trabalho, tanto que Neuroses é um espetáculo formado em cima deste formato.

Também estendemos a linguagem em outros projetos que fomos convidados: nas leituras dramatizadas do Janeiro de Grande Espetáculos e no projeto dramaturgia do Sesc Pernambuco.
Com o resultado do aprofundamento das pesquisas e experimentações em cima da linguagem dos desenhos animados e dos quadrinhos, o Cênicas Cia. comemorou cinco anos de existência com o espetáculo Neuroses, a comédia (2006), que marcava a volta do grupo às comédias desde Um gesto por outro. O espetáculo é formado por cinco esquetes de humor inéditos no Recife, de dramaturgos contemporâneos. Os esquetes falam do cotidiano de pessoas comuns que manifestam as suas neuroses no dia-a-dia. Além dessa ligação, o que une as diferentes cenas é a linguagem dos quadrinhos, explorada nas suas mais diversas manifestações. Desde os quadrinhos em preto e branco até os mangás japoneses.

Existem alguns grupos de teatro cujos trabalhos tiveram influência na nossa pesquisa: Cia Armazém de Teatro, do Paulo de Moraes; Grupo Bagaceira (CE), Dimenti (BA), Vigor Mortis e Paulo Biscaia Filho, além do estudo da historicidade dos grupos teatrais recifenses.
Nesse mesmo ano aconteceu algo muito importante para o grupo, fomos contemplados com o prêmio do Concurso Especial de Montagem Jean Genet – Fundarpe. As Criadas (2006), de Jean Genet, foi o primeiro espetáculo da companhia dirigido por convidados. Chamamos a dupla Marcondes Lima e Kleber Lourenço, que fez um trabalho minucioso, trazendo para o universo de Genet as referências do teatro oriental bem como os Mangás Japoneses, dando continuidade à estética do grupo na linguagem dos quadrinhos. Foi importantíssima a iniciativa do Prêmio da Fundarpe, criado por Romildo Moreira para homenagear Genet nos vinte anos de sua morte.

Com As Criadas, conseguimos uma projeção importante do nosso trabalho, passamos por alguns dos principais festivais do Nordeste, sempre com ótima repercussão. Fizemos a nossa primeira temporada no Teatro Arraial. Nesse tempo, participamos do IX Festival Nacional de Teatro do Recife, em 2006. Logo no início de 2007, participamos do Janeiro de Grandes Espetáculos, recebendo os prêmios de melhor espetáculo, melhor ator (Jorge de Paula), melhor iluminação e melhor sonoplastia, além de ser indicados em todas as categorias. Veio na seqüência o convite o Sesc para participar do Festival Palco Giratório (Etapa Recife) e em seguida vieram outras parcerias com o Sesc. Fomos a Petrolina participar do III Festival de Artes do Sesc Petrolina – Aldeia do Velho Chico 2007, em setembro, onde tivemos um dos melhores debates com o público após uma apresentação; e, em novembro, chegamos à Mostra Cariri de Artes,no Ceará. No início de 2008, conseguimos levar pela primeira vez As Criadas para o interior do estado, numa parceria do Janeiro de Grandes Espetáculos com o Galpão das Artes em Limoeiro.

Foi no final de 2006 que intensificamos os encontros semanais para aprofundamento da estética o grupo, bem como para acrescentar à nossa pesquisa um novo tema, tendo como base a infância, uma vez que decidimos montar o nosso primeiro espetáculo voltado para este público. Trabalhamos as nossas memórias, nossas recordações sobre este período de nossas vidas, utilizando jogos e esquetes criados a partir de laboratórios. O resultado desse mergulho serviu como guia para os nossos dois próximos trabalhos: Pinóquio e suas desventuras (2008), de Antônio Rodrigues; e Memórias (título provisório). Nosso próximo trabalho adulto não tem data prevista para estréia.
Ficamos muito felizes no final de 2007 com a premiação de Pinóquio no Fomento às Artes Cênicas da Prefeitura do Recife, viabilizando assim esse nosso sonho. Pinóquio tem previsão de estréia para setembro de 2008. O nosso primeiro infantil está sendo tratado com muito carinho e dedicação, além dos laboratórios desde o inicio de 2007, entramos em treinamento específico desde o final do carnaval de 2008. Temos três fontes de inspiração: a linguagem metateatral, na qual a cena se passa num teatro inserido dentro de outro, num jogo onde personagens e figuras animadas irão permear a encenação; o teatro de marionetes do século passado; e as histórias em quadrinhos, essa última enfatizando a nossa pesquisa de linguagem iniciada desde as primeiras montagens e culminada nos espetáculos Neuroses (que tinha influência dos desenhos animados) e As Criadas (com influência dos mangás japoneses).

Decidimos por essa escolha dramatúrgica devido à grande identificação da obra de Collodi com os aspectos comportamentais das crianças de hoje. Por isso, esse texto clássico em sua versão original é muito abrangente e atual. Fazer uma adaptação mais fiel, baseada no original, traz à tona questionamentos que são mascarados nas versões mais suavizadas, como a da Disney. A morte da menina Azul, a prisão de Gepetto, a fome de Pinóquio e a crueldade inconsciente aliada à ingenuidade do personagem são alguns dos ingredientes desse caldeirão de aventuras, que traz uma imediata identificação.

O Cênicas Cia. em 2008 está completando sete anos de existência. Sabemos que estamos apenas dando o primeiros passos em nossa trajetória. Pretendemos, com o tempo, estabecer a nossa sede, desenvolver nossos projetos sociais, fazer circulação com os espetáculos, fortalecer o repertório e seguir intensificando ainda mais as nossas pesquisas bem como realizar trocas com outros grupos de teatro da cidade e de outros lugares.

Saudações Dionísicas!